sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Em tempo de mar




Falei-te nos sonhos alados que proclamam o oceano
Que deixa a vontade planar em asmos;
Desenhei-te elipses, na pele, entre marasmos,
Sem sequer te tocar e sem te conduzir ao mundano.

Falei-te de pontes que unem o sagrado ao profano,
Entre palavras que não pedem histórias, nem sarcasmos;
Longe do clímax, mas próximo dos entusiasmos,
Provaste que sou tão só e tão simplesmente humano.

No saber do feito do mar e do horizonte afogueado,
Permaneci a dedilhar árias nos tons da perspectiva,
Pela escala da bondade da estação contemplativa.

Escrevi-te poemas e uma extensa missiva,
Sem parar no ventre de um destino rogado,
Falei-te do vasto amor, quem me mantém resignado.



E hoje… (XLVIII)

   
     … Apenas a sombra da senhora, encostada à parede. Uma sombra com sonhos, como em qualquer outra sombra, mas uma sombra vazia. Uma lembrança...

     Dizem que partiu, a senhora da sombra, que tinha todos os sonhos feridos, doentes. Recordas-te? Partiu, dizem, numa última bofetada duma cobardia que se perpetua.
   
     De resto, a vida continua, na companhia dos lugares-comuns, dos lugares comuns, dos lugares incomuns, dos odores, dos sons, dos verbos, dos adjectivos… Dos sonhos... Das palavras, das pessoas e dos silêncios; em paz, eu, mas sem descanso.

     As pessoas...
     
     O mar soltou um murmúrio, por entre suspiros.
     
     E sim, gosto de flores, de animais, em geral. Futilizo, eu sei, mas, hoje, não sei, ao certo, para onde vou...
     
     Creio que resta uma moral: Não deixes que se repita!
     
     
     

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nas quimeras que articulam o horizonte






Entorpeço, enquanto me dispo de pleonasmos.
Caio, lentamente, da última frase,
Agarrado a uma metáfora, que não me pode remir,
E vejo um verso que beija.
Aqui estou, sem mais nada.
As palavras têm fome e sede,
E outras figuras, com e sem estilo.
Pedem abraços e cedem amor,
Aquele amor que tem trazido por perto
E tão longe está de mim.
  
  
  

presumível





em todos os tempos eu sorrio
eu alegro os pedacinhos de céu que colei para sorrir
e caminho em pedacinhos voadores de chão que voa

num gesto lento abraço
perdoo rápido o tempo
na luz trémula
raramente o tenho

e quanto eu estou e como
de cabeça erguida em reserva
dos nossos corpos persuade as sombras
cada uma brilha de acordo com a sua natureza
encontrar-se-ão na luz que não paramos de acender

é a forma
leva-me onde nos pode levar o amor
hoje perdi a razão e quero eu encontrar-me
e nela incluso
em palavras que não são como eu
não posso eu ficar

eu nunca estive
eu apenas existo num gesto descrito
e perdoo o tempo que me termine
eu estou num desenho de um traço leve
e assim eu estou e leve vivo na graça
um momento que nunca foi vivido
de uma circunstância para sempre envolvida




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Todo um dia


Todo um dia
ou
Um dia intacto
  


Conheces o ar de um dia inteiro,
Que circula livremente, como não somos;
Que, sem nos apagar, nos extingue
E agrega, naturais e difusos,
Em sinais e sentidos resolutos;
Que acompanha o brilho de um amanhã
Na luz opaca e ocupada da alvorada.
Esse ar entrou pelas minhas janelas abertas
E com ele, através delas,
Entrou como ar da manhã, que não se pode adiar;
Como ar da tarde, que me demora;
Como ar da noite, que me embala um desejo.
Mas não o vejo.
O Universo adia-nos, continuamente,
Nas suas próprias janelas,
No seio do seu vácuo, onde sou.
E sorrio, conheces o meu sorriso;
Conheces o ar de um dia inteiro…
  
  
  

domingo, 3 de novembro de 2013

Rumo ao deserto


   

Peço licença para entrar e rodopiar na tua cabeça,
E propagar-me como essência de pensamento
Que não se permite procrastinar ou deter em lamento.
  
E, na linha do ocaso, este é o meu último século,
Não quero calar o afecto que sufoca na garganta
E, num último grito, abafa a palavra que se agiganta.
  
Escorregam, as palavras, pela noite como pelo dia,
Erram, ainda que a minha vida se lhes escoe sem lios
E te encontrem, de outra forma, em desafios.
  
Ouvi os gritos das palavras que arderam
E as palavras que em mim vivem, e me tem por certo,
Queimam e crepitam neste meu rumo ao deserto.